Skip to main content
Solidariedade
28 January 2021

Cabeleireira corta cabelo a pessoas em situação de sem abrigo

A pandemia obrigou-a a fechar o salão, mas Susana Cascalho não quis parar. Todas as semanas vai até ao Centro de Acolhimento para Pessoas em Situação de Sem-Abrigo e corta o cabelo a quem precisar. 
Cma Logo

«Não quero ficar em casa com tanta gente a precisar do nosso apoio», explica Susana, enquanto corta o cabelo aos utentes que vão chegando a este centro, a partir das 18 horas.
 
O desvelo das suas mãos deixa transparecer o respeito pelos outros e pelas suas histórias de vida. A sua é simples. Teve de fechar o cabeleireiro, em Cacilhas, pela segunda vez, por causa das medidas de restrição impostas pelo Estado de Emergência. Mas em vez de ficar em casa, quis ajudar.
 
Soube por um funcionário da Câmara Municipal de Almada que havia uma bolsa de voluntariado e ofereceu-se para vir até este Centro de Acolhimento a Pessoas em Situação de Sem-Abrigo, a funcionar ininterruptamente desde o dia 26 de março, primeiro no Liberdade Futebol Clube, em Almada, e agora no Clube de Instrução e Recreio do Laranjeiro.
 
Comida, higiene, um teto e um nome
 
Lourenço Gomes, 54 anos, é o seu primeiro cliente. Conta que foi polícia, que teve treino na Argélia e que está muito grato pelo apoio que recebe. Trabalhava na construção civil, mas depois de uma operação aos pulmões, ficou com uma incapacidade permanente de mais de 60%. «Aqui, nunca passei fome, nem me faltaram os medicamentos».
 
Como ele há 25 homens que aqui chegam ao final do dia. Têm roupa lavada, casa de banho, duche de água quente, comida, cama e pessoas voluntárias, que sabem de cor os seus nomes.
 
Há quem tenha vivido em parques de campismo, como o José Silva, que ficou em situação de sem abrigo quando perdeu o emprego e deixou de conseguir pagar o seu lugar no parque.
 
Há quem tenha vivido em garagens e escadas, como o António de Lima, que depois de 44 anos de trabalho numa uma drogaria, ficou sem emprego e casa. Apesar de adorar adivinhas, não desvenda ainda futuro. Mas pede trabalho, «nem que seja a varrer ruas». 
 
 
Em cada cama de campanha cedida pela Proteção Civil de Almada, debaixo dos cobertores doados por munícipes ou instituições, existe uma história de vida, que aqui teve direito a um novo começo.
 
Trabalho de muitas equipas
 
Desde o início do projeto, já se conseguiu inserir 16 pessoas em comunidades terapêuticas.
 
Cerca de 20 ganharam autonomia, conseguindo alugar espaço para viver.
 
Este é o resultado do trabalho conjunto da Câmara Municipal de Almada, que gere o espaço, com o apoio de várias instituições.
 
São elas: Aceda (Associação Cristã Evangélica de Apoio Social), Associação Gerações Sorriso, Equipa de Tratamento Especializado de Almada (ex-CAT), AMI (Assistência Médica Internacional) e Liga dos Amigos do Hospital Garcia de Orta.
 
Juntos asseguram as vagas e os apoios individualizados a 25 pessoas em situação de sem-abrigo, que em algum momento da sua vida, precisam do apoio de espaços como este.
 
Uma resposta definitiva
 
Foi já aprovado em reunião de Câmara a criação de um espaço definitivo, na antiga Escola António José Gomes, na Cova da Piedade.
 
Terá a valência noturna, já em funcionamento no CIRL, acrescentando ainda uma nova resposta de ocupação diurna.
 
Prevê-se que estas duas respostas possam entrar em funcionamento até ao final do primeiro semestre deste ano.