O júri é composto por dois autores reconhecidos pelo seu trabalho em cada área e um representante da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), um representante da Gestão dos Direitos dos Artistas (GDA) e um representante do Gerador. Selma Uamusse e Tó Trips integram o júri do Cantar Abril, Aldara Bizarro e Victor Hugo Pontes do Dança Abril, e Gonçalo M. Tavares e Alice Neto de Sousa do Declamar Abril.
Biografia
Selma Uamusse é uma cantora moçambicana nascida em 1981 a viver em Portugal desde 1988. Canta profissionalmente desde adolescente tendo um percurso bastante diversificado na música.
Estudou no Hot Clube de Portugal e criou em nome próprio os projectos Souldivers, Selma Uamusse Nu Jazz Ensemble e Tributo a Nina Simone, onde colaborou com Ana Bacalhau, Rita Redshoes, Marcia,The Legendary Tigerman, Luisa Sobral, Elisa Rodrigues, Gospel Collective, entre outros. Participou em discos e espetáculos de diversos artistas como Samuel Úria, Medeiros/Lucas, You Cant Win Charlie Brown, Joana Barra Vaz, Moullinex, Orquestra Todos entre outros. No último ano emprestou também o corpo e voz a projectos de teatro (“Ruínas” com encenação de António Pires e “Passa-Porte” de André Amálio), cinema (“Cabaret Maxime” de Bruno Almeida e “Fogo” de Pedro Costa) e nas artes visuais (instalação de Angela Ferreira).
Em nome próprio, Selma Uamusse explora as raízes do seu país de origem, usando ritmos moçambicanos e letras em línguas nativas, com a utilização de instrumentos tradicionais como timbila e mbira, combinando tudo com electrónica e com outras referências que espelham as suas diversas influências.
O seu álbum de estreia, “Mati”, que significa "água" em Changana (uma das três línguas mais faladas em Moçambique), editado em 2018 pela Ao Sul do Mundo e distribuído pela Sony Music, foi amplamente elogiado pela crítica nacional, tendo sido apresentado em diversos e prestigiados palcos nacionais e internacionais, num tour com mais de 60 concertos, como são exemplo, o Rock in Rio (Portugal), Vodafone Mexefest (Portugal), FMM Sines (Portugal), Festival MED (Portugal), MiMO Amarante (Portugal), MaMA Paris (França) , MMM Maputo (Moçambique), MIL Lisboa (Portugal), SIM São Paulo (Brasil), Festival Back2black Rio de Janeiro (Brasil), Siesta Festival Gdansk (Polônia), Centro Galego de Arte Contemporânea Santiago de Compostela (Espanha), NY SummerStage no Central Park (EUA), Festival Crespo no Circo Voador (Brasil), Festival Atlantico em Philharmonie (Luxemburgo) e Akropolis Palace
em Praga (República Tcheca).
Se há um encontro musical de Selma com Moçambique no seu primeiro disco, há igualmente um encontro espiritual com o continente africano. O primeiro disco de Selma Uamusse, produzido pelas mãos preciosas de Jori Collignon (dos Skip & Die), ouve-se como duas viagens simultâneas – uma geográfica, uma visita a Moçambique, onde a cantora se abastece de sons e partilha a sua identidade; e uma interior, num mapa espiritual que se vai descobrindo à medida que a música se infiltra em quem ouve. Em cada segundo, este aguardado disco de estreia de Selma produz um efeito hipnótico, entalando-nos entre passado e futuro, pertencendo ao ancestral e ao desbravador, criando uma música que não tem nome possível. Ou talvez tenha. Talvez se chame simplesmente Selma Uamusse.
Em 2020 lançou o seu segundo disco em nome próprio, “Liwoningo” (que significa luz em Chope, uma língua tradicional de Moçambique), produzido por Guilherme Kastrup, produtor premiado com um Grammy pelos álbuns “A Mulher do Fim do Mundo” e “Deus é mulher” da aclamada e também premiada Elza Soares, este é um disco que acentua o património imaterial Africano, de Moçambique, uma africanidade que continua a inspirar letras e melodias, mas que se mistura por esse mundo fora, em temas e arranjos, uns mais próximos da tradição do folclore, outros que vagueiam entre o electrónico, o rock, o afro-beat e o experimental, mantendo sempre como lugar comum a potência do ritmo, da língua ou das sonoridades africanas, abrindo espaço para outras influências, da música portuguesa e Brasileira.
“Liwoningo” conta com as incríveis participações da banda brasileira Bixiga 70, dos artistas moçambicanos Chenny Wa Gune, Milton Guli e Lenna Bahule e do Korista Mbye Ebrima da Gâmbia.
Selma Uamusse começou a desvendar um pouco daquilo que iria ser feito “Liwoningo” com os singles “No Guns” e “Hoyo Hoyo”. Temas que despertaram o interesse do público de tal forma, que em poucos dias esgotaram o concerto de antestreia do disco, nos Jardins da Gulbenkian.
O poderoso instrumento vocal e a genialidade performativa de Selma Uamusse levaram-na a brilhar nos mais diferentes géneros musicais, desde projetos como WrayGunn, Cacique’97, Gospel Collective ou Rodrigo Leão, sendo a sua versatilidade também reconhecida no teatro, cinema e artes visuais.
Em nome próprio, Selma Uamusse é bem mais do que uma colagem das aventuras artísticas que viveu. A sua música é um manifesto pela harmonia ao que nos rodeia, um olhar positivo sobre o mundo. Uma forma de luta e de esperança por uma sociedade mais livre, com mais amor. Características que vão além da música, como se viu em 2019 quando Selma, enquanto mentora e organizadora do movimento "Mão Dada a Moçambique", reuniu mais de 50 artistas e figuras políticas que contribuíram com a sua voz e presença no evento de angariação de receitas, transmitido pela RTP, para combater a catástrofe humanitária resultante da passagem do ciclone Idai, em Moçambique.
Biografia
Senhor de uma presença discreta mas continuamente substancial na movida musical deste burgo, Tó Trips amealha já praticamente quatro décadas de ofício à guitarra, num caso raro de resiliência benigna e constante inventividade. Com fundações nos Amen Sacristi em plena era do Rock Rendez-Vous, hoje refundidos na memória desses tempos insurrectos à sombra da CEE, passou pelos seminais Santa Maria, Gasolina em Teu Ventre de Jorge Ferraz para daí fundar os Lulu Blind. Banda icónica de uma certa juventude sónica que se propagou um pouco por todo o país durante a década de 90, deixaram como respeitável legado três álbuns em flirt com a exposição mediática do mainstream e lembranças de concertos incendiários.
Nos inícios deste século, e após o término orgânico dos Lulu Blind, começa a delinear de forma mais inquisitiva a sua linguagem à guitarra, deixando de lado a inquietude electrificada e de dentes cerrados da década precedente para a dotar de um poder imagético tão vasto quanto singular. É com a formação dos Dead Combo, ao lado do saudoso Pedro Gonçalves, que primeiro ouvimos esses acordes. Duo que se assumiu de forma singela como "music with Lisbon inside" e que criou ao longo de 15 anos - até à morte prematura de Gonçalves - um reflexo dessa mesma Lisboa - e por arrasto também deste país - aberta a outros mundos, hospedeira de linguagens e culturas. Na música dos Dead Combo, e em particular na sua
guitarra, o fantasma de Carlos Paredes assombrava o lirismo de Enio Morricone, as paisagens de Ry Cooder dão lugar ao fervor do flamenco, a ginga cubana enviesada por Marc Ribot dá andamento à boémia lisboeta, cruzando histórias e latitudes de um modo tão honesto quanto seu.
Uma guitarra com gente dentro, tal como a do mestre Paredes, populada por memórias e vivências, que teve na sua estreia a solo - Guitarra 66 - o seu primeiro traço abertamente autobiográfico. Disco cru e luminoso editado pela Mbari em 2009, onde Trips projectava um cruzamento multicultural muito intuitivo na forma e na abordagem, como quem habita o real e o imaginário com igual fervor. Paralelamente, vai expandindo a sua linguagem através de colaborações pontuais e projectos como Timespine, ao lado de Adriana Sá e John Klima, numa consequência natural dessa demanda contínua por horizontes mais vastos, nunca tacanhos ou fechados na sua própria fórmula. Em 2015, lança novamente pela Mbari o seu segundo disco a solo: 'Guitarra Makaka - Danças a um Deus Desconhecido'. Álbum gravado à guitarra Resonator, instrumento habitualmente conotado com os blues via Bukka White, que é aqui revisto a uma luz igualmente instintiva mas distante do cânone do género. Novamente, todo um imaginário muito seu.
Chegados a 2023, com a banda sonora para 'Surdina' de Rodrigo Areias e a formação do Club Makumba a mediarem de forma mais que digna estes oito anos, Tó Trips lança pela Revolve o seu terceiro álbum, fruto de três anos de labuta. Intitulado 'Popular Jaguar', toma inspiração no animal, que se movimenta na sombra, para daí erigir pequenas histórias instrumentais vividas pelo seu autor, naquele que é o seu trabalho mais autobiográfico e o primeiro a ser lançado após os Dead Combo. Título mais do que certeiro para a própria vivência de Tó Trips, 'Popular Jaguar' traz na capa o guitarrista na sombra, como aquela figura que reconhecemos mas nunca delineamos na sua plenitude. Disco de mistérios, silêncios e lugares, existem nele referências geográficas - 'L.A. Chet', 'Napoli Blue Dreams' ou 'Nazaré em Câmara Lenta' -, alusões à transcendência - 'O Processo de uma Aparição' ou 'Deus do Vento' - e situações bem concretas do quotidiano - 'Dançar em Frente ao Espelho' ou 'Amor em Tempos Fodidos' - num mosaico vivido e pleno de lirismo, numa tessitura de acordes dolentes e notas que cortam com tudo aquilo que possa soar superficial. No fundo, Trips ao seu mais despojado, e curiosamente mais aberto. Sempre ele.
Biografia
Estudou dança em Luanda, Lisboa, Nova Iorque e Berlim. Gosta de evidenciar os períodos em que estudou no Merce Cunningham Studio, no Movement Research (NYC), e no Tanzfabrik (B), como sendo das fases mais ricas da sua formação. Começou a coreografar em 1990 com Me myself and Influências, peça premiada no IV Workshop Coreográfico da CDL. Desde então assina as suas peças que são apresentadas em todo o país.
Fez parte do grupo da Nova Dança Portuguesa representado na Europália 91. Foi pioneira em Portugal na criação de dança para jovens e no envolvimento dos mesmos nas obras, através da criação do Projeto Respira em 2007. A sua peça A Nova Bailarina, foi distinguida pelo jornal Publico como uma das melhores peças de 2011.
Como formadora trabalhou no Forum Dança, Escola Superior de Dança, CCB, F.C. Gulbenkian, CCVF/A Oficina, Artenrede, e muitos outros. Foi diretora artística de Jangada, uma estrutura de dança financiada pela DGArtes, durante 16 anos.
Atualmente desenvolve projetos para jovens e para a comunidade, cruzando a dança com outras artes, com enfoque na componente artística, social e pedagógica.
Biografia
Victor Hugo Pontes nasceu em Guimarães, em 1978.
É licenciado em Artes Plásticas – Pintura, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.
Em 2001, frequentou a Norwich School of Art & Design, Inglaterra. Concluiu os cursos profissionais de Teatro do Balleteatro Escola Profissional e do Teatro Universitário do Porto, bem como o curso de Pesquisa e Criação Coreográfica do Forum Dança.
Em 2004, fez o curso de Encenação de Teatro na Fundação Calouste Gulbenkian, dirigido pela companhia inglesa Third Angel, e, em 2006, o curso do Projet Thierry Salmon – La Nouvelle École des Maîtres, dirigido por Pippo Delbono, na Bélgica e em Itália.
Como criador, a sua carreira começa a despontar a partir de 2003 com o trabalho Puzzle. Desde então, vem consolidando a sua marca coreográfica, tendo apresentado o seu trabalho por todo o país, assim como em Espanha, França, Itália, Alemanha, Rússia, Países Baixos, Brasil, Moçambique, entre outros.
Biografia
Alice Neto de Sousa (1993), poeta, entre outros ofícios, é uma escritora e dizedora de poesia, nascida em Portugal com raízes em Angola.
Autora do poema "Março" escolhido para inaugurar as comemorações dos 50 anos do 25 de abril e do poema "Poeta" que, em 2022, conquistou as redes sociais e tem voado pelo mundo.
Foi presença assídua no programa "Bem-Vindos" na RTP África. Tem poemas no jornal "Mensagem de Lisboa" e faz parte da bolsa de poetas da associação cultural "A Palavra".
Atualmente, é Escritora Residente na Fundação Calouste Gulbenkian e, tal como em pequena, começa a acreditar que "o barulho das folhas" - talvez seja mesmo - o falar das folhas. Inquieta por natureza, nas palavras e nas escolhas, gosta de liberdade de pensar e de sentir.
Biografia
Gonçalo M. Tavares nasceu em 1970. Desde 2001 publicou livros em diferentes géneros literários, traduzidos em quase 60 países.
Os seus livros receberam vários prémios em Portugal e no estrangeiro.
Com Aprender a rezar na Era da Técnica recebeu o Prix du Meuilleur Livre Étranger 2010 (França), prémio atribuído antes a Robert Musil, Orhan Pamuk, John Updike, Philip Roth, Gabriel García Márquez, Salman Rushdie, Elias Canetti, entre outros.
Alguns outros prémios internacionais: Prémio Portugal Telecom 2007 e 2011 (Brasil), Prémio Internazionale Trieste 2008 (Itália), Prémio Belgrado 2009 (Sérvia), Grand Prix Littéraire du Web – Culture 2010 (França), Prix Littéraire Européen 2011 (França).
Foi por diferentes vezes finalista do Prix Médicis e Prix Femina.
Uma Viagem à Índia recebeu, entre outros, o Grande Prémio de Romance e Novela APE 2011.
Os seus livros deram origem, em diferentes países, a peças de teatro, dança, peças radiofônicas, curtas-metragens e objetos de artes plásticas, dança, vídeos de arte, ópera, performances, projetos de arquitetura, teses académicas, etc.