O Aniversário - 40º Festival de Almada
Quando Goldberg e McCann, com ar de cangalheiros, chegam ao sítio onde Stanley vive — uma casa de hóspedes à beira-mar — o absurdo e o medo misturam-se. Harold Pinter escreveu O aniversário numa década em que toda uma geração recuperava da II Guerra Mundial. Tempos em que as ameaças não explícitas, próprias de um clima de Guerra Fria, galopavam na imaginação de cada espectador. O cinema explorou estas sombras, e o teatro também. Em 1957, quando a peça se estreou, as opiniões da crítica dividiram se. Harold Hobson, no The Times, foi um dos seus principais defensores, prevendo o futuro triunfal daquela que é considerada a primeira grande peça de Pinter: “O enredo é de primeira qualidade. A peça decorre numa atmosfera de terror deliciosa, que nos deixa de cabelos em pé. O autor revela-nos um dos traços mais recorrentes da existência humana: vivemos todos à beira do desastre”.
A rigorosa encenação de Peter Stein apostou no mimetismo entre o palco e a plateia, relatando-nos o quotidiano de um homem “traçado a régua e esquadro, rodeado por um conjunto de ameaças que transformam esta festa de aniversário numa verdadeira noite de horrores”. O histórico encenador alemão regressa a Almada, onde nos últimos anos nos apresentou algumas criações inesquecíveis, de autores como Goethe, Labiche, Beckett, e o próprio Pinter. Em 2015 dirigiu a formação O sentido dos mestres.
Encenação de Peter Stein.Por Tieffe Teatro Milano (Itália).