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"O som é o monumento", de Kiluanji Kia Henda

"O SOM É O MONUMENTO", de Kiluanji Kia Henda
"O SOM É O MONUMENTO", de Kiluanji Kia Henda

As antigas piscinas de São Paulo, em plena Almada Velha, vão ganhar uma nova vida. Até meados de novembro, servem de casa a uma exposição muito especial do artista angolano Kiluanji Kia Henda. Este projeto desenvolve-se a partir do Monumento aos Mortos da Grande Guerra, em Luanda — também conhecido como Maria da Fonte —, uma estátua erguida em 1937, que se destacou como uma das maiores construções monumentais do Império Português em África. O monumento foi dinamitado em 1976, um ano após a independência de Angola, resultando na dispersão de grandes blocos de pedra esculpida, embora o pedestal original tenha permanecido intacto. A partir de imagens documentais dos fragmentos do monumento e dos soldados angolanos e cubanos que participaram na sua destruição, Kiluanji cria uma série de colagens digitais que dão origem a um conjunto de oito posters de bandas musicais fictícias, impressos em escala monumental. No centro da piscina principal está instalada a obra “O Som é o Monumento” — um plinto geométrico que reinterpreta a forma de um pedestal, transformando-o numa caixa acústica. Esta estrutura é utilizada para a difusão de um repertório de músicas angolanas, que constroem contranarrativas sonoras ao discurso colonial e imperialista, afirmando a música como veículo de memória, identidade e insurgência cultural. Através desta operação estética e simbólica, o artista ressignifica os escombros do passado como matéria de invenção e resistência, propondo uma reflexão crítica sobre novas formas de celebrar e reinscrever a memória no espaço público, onde o som — a música — assume o lugar de monumento.

 

A exposição fica patente de 7 de junho a 15 de novembro de 2025.

 

Piscina

Rua Leonel Duarte Ferreira, 4

Almada

 

De quinta a sábado

Das 14h às 18h

 

 

 

Kiluanji Kia Henda (Luanda, 1979) é um artista multidisciplinar, que vive e trabalha em Luanda. A sua prática artística centra-se na arte como instrumento de transmissão e reconstrução histórica, recorrendo a diversos meios — como a fotografia, o vídeo, a performance, a instalação, a escultura-objeto, a música e o teatro de vanguarda — para criar narrativas ficcionais, que reconfiguram factos históricos em novas temporalidades e contextos de luta. Através do uso estratégico do humor e da ironia, o artista investiga temas como identidade, política, pós-independência e os paradigmas da modernidade em África. O seu trabalho estabelece um diálogo crítico com o legado histórico, explorando a apropriação e a manipulação de espaços e estruturas públicas como mecanismos de construção da memória coletiva. Kiluanji Kia Henda é também cofundador da KinoYetu, uma associação sediada em Luanda dedicada à promoção das artes, com especial ênfase no cinema. A organização visa a criação de plataformas sustentáveis para o desenvolvimento do pensamento crítico e da produção de conhecimento através do cinema e das artes visuais.

O trabalho de Kiluanji Kia Henda tem sido incluído ou comissariado por diversas instituições e eventos de prestígio a nível internacional. Nos últimos anos, integrou a 60.ª Bienal de Veneza, a Serpentine Galleries (Londres), o Haus der Kulturen der Welt (HKW) (Berlim), o Centre Georges Pompidou (Paris), o Migros Museum (Zurique), a Manifesta Biennial (Barcelona), o International Film Festival of Rotterdam, a 2.ª Bienal de Lubumbashi (RDC), o Unlimited Basel - Art Basel, a 12.ª Bienal de Gwangju (Coreia do Sul), a Tate Modern (Londres), o Museu Guggenheim (Bilbau), a 3.ª Trienal do New Museum (Nova Iorque), a 11.ª Bienal de Dakar (Senegal), a Bergen Assembly – 1.ª Bienal de Bergen (Noruega), o Museu Tamayo (Cidade do México), bem como a 29.ª Bienal de São Paulo, a 52.ª Bienal de Veneza – Pavilhão Africano (2007) e a Trienal de Luanda (2007), entre outros. Em 2012, foi distinguido com o Prémio Nacional de Cultura e Artes, atribuído pelo Ministério da Cultura de Angola. Em 2014, foi selecionado como um dos 100 Leading Global Thinkers pela revista norte-americana Foreign Policy. Em 2017, recebeu o Frieze Artist Award em Londres e, em 2025 ganhou o prémio "Criatividade Para a Mudança Social" em Milão, outorgado pela Moleskyne Foundation e pela Democracy and Culture Foundation.