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Percursos de autor - Sérgio Rosado

Sérgio Rosado

Texto de Ana Paula Cruz
Fotografia de Victor Mendes

A buzina dos cacilheiros rompe a calma de uma tarde fria e solarenga de inverno junto ao Farol de Cacilhas. Um surpreso “já não vinha há tanto tempo a Cacilhas”, dá início à conversa com o cantor Sérgio Rosado, da banda Anjos. Almada fez parte das vivências da sua adolescência (viveu no Laranjeiro até aos 15 anos) e foi palco de dois marcos importantes do seu percurso: a estreia na música e o início do namoro com a companheira de sempre. Numa viagem pelo tempo, passámos pelos locais que simbolizam a sua estreita ligação à cidade: “quem conhece bem a nossa história sabe perfeitamente o carinho que temos pelas gentes almadenses”. Cacilhas é o ponto de partida deste itinerário. É o cenário da primeira fotografia de Sérgio com a namorada Andreia, teriam cerca de 16 anos. “Esta foto foi numa das viagens que fazíamos de vez em quando a Lisboa, de cacilheiro, e aproveitámos para registar o momento. Foi mesmo no início, há 23 anos. Éramos muito novinhos”. Andreia e Sérgio conheceram-se na Escola do Fogueteiro, que Sérgio frequentou por apenas três meses, enquanto aguardava o início das aulas numa Escola Profissional, em Lisboa. Meio a brincar, conta que “o destino estava traçado para eu conhecer a Andreia. O que eu fui fazer à escola, nesse tempo, foi conhecer a minha mulher, porque de resto não tive tempo para mais nada”.

Mas, recuemos um pouco no tempo, até 1988 e à Casa do Algarve, em Almada. “Quem nos segue há muito tempo sabe que foi lá que cantámos pela primeira vez juntos ao vivo, tinha eu 8 anos. Isto pela ligação do meu pai ao Algarve, que é algarvio e que, na altura, fazia parte da direção da Casa do Algarve. A minha primeira atuação nem sequer foi uma música completa, porque me enganei na letra, saí do palco a chorar, e deixei o meu irmão (Nelson Rosado) a tocar sozinho”.

É na Casa do Algarve, com a atuação em bailes, que os dois irmãos começam a desenhar a perspetiva de uma carreira na música.

Sérgio lembra um outro momento decisivo na Casa do Algarve: “a Andreia ainda assistiu a um espetáculo nosso, enquanto Irmãos Rosado, na Casa do Algarve. Foi num espetáculo de Carnaval e foi aí que ela conheceu os meus pais pela primeira vez. A minha mãe estava mascarada de palhaço, portanto foi uma boa apresentação da futura sogra, foi muito engraçado”.

A participação no programa da RTP Casa de Artistas, em 1997, muda a trajetória dos irmãos Rosado. “Na altura vencemos o programa e demos o salto para a profissionalização, com a passagem pelos Sétimo Céu e, depois, o início dos Anjos. Uma das músicas que fiz para a Andreia (Noites Sem Fim), pertenceu ao primeiro álbum de originais dos Anjos, que começámos a gravar em 1998. Sempre fui um rapaz muito apaixonado, por isso a inspiração está sempre lá”.

Academia Almadense e a Cerca da Noite

Numa passagem pela Academia Almadense, resgatámos as memórias da primeira ida do casal ao cinema, com a devida autorização do pai da Andreia que, pelo sim, pelo não, foi ao local verificar qual o filme que foram ver. Sérgio recorda-se que se tratava de uma comédia, Matilda, A Endiabrada, “mas o título não convenceu o pai da Andreia, que ficou com a pulga atrás da orelha e depois questionou-a: mas que raio de filme é que vocês foram ver?”. Sérgio confessa que “foi fantástico regressar” à Academia, porque “a sala continua imponente”, acrescentando que “esta era uma sala carismática, era o grande cinema aqui da zona. Nunca mais me esqueço de vir aqui à grande estreia do Titanic”.

Também a Cerca da Noite, no número 1 da Rua da Cerca, em Almada Velha, foi um local incontornável do namoro de Sérgio e Andreia, onde saíam à noite “sempre com a supervisão do irmão mais velho, para não haver confusões”. Sérgio embarca numa viagem de memórias. “Que giro voltar aqui. O meu cunhado era o barman residente. Nunca mais me esqueço porque ele era a única pessoa a trabalhar no bar. O bar estava sempre cheio e a memória que eu tenho é vê-lo a fazer os pedidos, a fazer os cocktails (tinha 300 e tal de cor) os pagamentos, tudo sozinho, e ninguém se queixava. O meu irmão também chegou a vir aqui algumas vezes comigo. O Nelson acompanhou também o crescimento da Andreia. É incrível como os anos passam rapidamente, mas estas recordações ficam permanentes, para sempre”.

Pelo meio conta-nos que a ascensão dos Anjos nem sempre facilitou a sua relação com Andreia, que acompanhou a carreira de Sérgio desde o início. “Nós somos quase um case study dentro da música nacional e não só. Não é fácil tendo a profissão que tenho e a exposição mediática, continuarmos com uma relação de muitos anos. Como todos os casais, temos momentos bons e menos bons e é nesses momentos menos bons que se fortalece a relação. Passámos por bastantes obstáculos. Mas é preciso batalhar por aquilo que realmente queremos. Percebi que a mãe dos meus filhos estava ali e não a podia deixar fugir. Foi a minha primeira grande paixão, a minha primeira grande namorada e ficou”.

Terminamos o périplo pela cidade no Parque da Paz. Perto da casa da avó de Andreia, foi muitas vezes o local escolhido para os passeios mais tranquilos a dois: “É um dos parques mais emblemáticos da cidade e um local mais discreto”. Como Sérgio constatou, a extensa mancha verde continua a ser o cenário perfeito para passeios românticos. Foi lá que nos falou da forma como, em 2018, o par assinalou os 20 anos de relação, com a concretização do casamento religioso, com a participação dos dois filhos: Ian, de 19 anos, levou a mãe ao altar e Iara, de 10 anos, foi batizada. Sérgio surpreendeu a esposa com votos em forma de uma canção com o nome “Eterno”. “Foi muito especial. Tudo isto resultou numa música que acabou por ser de todos. Esta é a magia da música, porque estamos a partilhar com o mundo a nossa história de vida e, de repente, estamos a tocar na vida das pessoas de uma forma muito pessoal e particular. Já tinha escrito algumas canções para a Andreia, mas esta é uma homenagem à nossa relação. É importante percebermos de onde viemos, do início, e das pessoas que sempre estiveram ao nosso lado”.

Sérgio Rosado mora no Seixal, mas continua a vir frequentemente a Almada, onde todas as semanas treina no Complexo Municipal de Piscinas da Sobreda e prepara a participação, em outubro, naquela que é considerada a prova mais dura do mundo – o Iron Man – e que vai colocar mais uma vez à prova a sua resistência. Atualmente, os Anjos estão a trabalhar numa nova música que será lançada ainda no primeiro trimestre deste ano e a preparar a tournée de 2023, que vai continuar a chamar-se “Voa”. “É mais uma tour especial nas nossas vidas, com muita energia e muita cor e, obviamente, queremos trazê-la aqui ao concelho”.